Overblog
Editer l'article Suivre ce blog Administration + Créer mon blog

Recherche

3 septembre 2007 1 03 /09 /septembre /2007 10:44
Terrorismo cultural e Kuduro
Patrício Batsîkama
Nas minhas reflexões sobre a Democracia como cultura e essa como produto espontâneo e dinâmico do homem, surgiu uma série de perguntas intermináveis. E cheguei numa das conclusões que o terrorismo cultural – indesejável pela comunidade mas tão vital para o indivíduo – poderia ser dum lado como veneno na sanidade cultural dum povo estabelecido (culturalmente, claro) embora tenha caril democrático, e de outro essência do homem insatisfeito perante suas necessidades e aspirações.
 
Reconheço nessa minha reflexão um atrevimento, extrema talvez, mas não escondo as minhas sinceras intensões filosóficas e gostaria que o meu leitor me siga simplesmente nessa senda.
 
Definição
Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, por indivíduos, ou grupos políticos, contra a ordem estabelecida. Entende-se, no entanto, que uma dada ordem pública também possa ser terrorista na medida em que faça uso dos mesmos meios, a violência, para atingir seus fins. Não será aqui questão de Terrorismo indiscriminado. São todas as acções que se destinam a fazer um dano a um agente indefinido ou irrelevante. Pois vou tentar me basear no Terrorismo Seletivo: que  visa atingir diretamente um indivíduo. Seletivo significa que visa um alvo reduzido, limitado, específico e conhecido antes de efectuar o acto. Visa a chantagem, vingança ou eliminação de um obstáculo. Considera-se terrorismo porque tem efeitos camuflados, e efeitos políticos, pretende pôr em causa uma determinada ordem.
 
E por terrorismo cultural, deve o leitor entender dois sentidos principais: 1) para uma cultura já estabelecida, os novos valores são tidos como efeitos de terrorismo; 2) também uma cultura estabelecida pode ser para um individuo algum terrorismo no sentido que pertuba as suas aspirações mesmo for ele criado pela mesma (cultura). E quem luta contra o terriorismo mesmo de forma passiva, passa a concretizar uma acto de terriorismo também.
 
Kuduro: um terrorismo cultural para angolanidade?
Quem assistiu na Makas da União dos Escritores Angolanos (UEA) da última quarta-feira, dia 8[1], terá acompanhado a eloquência de Luís Mendonça sobre Kuduro. Para esse escritor, Kuduro é uma arte anti-musical. Comparou os Kuduristas aos Kandongueiros, ou seja taxistas que conduzem viaturas sem portanto passar pela formação, etc. Resumindo as suas declarações, Kuduro seria aquilo que chamemos «terrorismo cultural» porque tem «efeitos camuflados», pensa-se.
 
Qual é a nossa opinião? Sabemos de antemão que não só a música requer uma formação mas toda arte. Essa formação pode ser formal assim como informal. São os efeitos que mais contam. Imgine uma menina Mujinga, formada na Escola de Música com diploma de especialidade em piano mas que a toca imperfeitamente em relação a outra menina Mbûmba que aprendeu com seu pai. Ambos, porém, têm formação embora uma seja formal e outra informal. Isso é dum lado. De outro, me parece uma arrogância gravitada de intensões subjectivas dizer que Kuduro seria uma arte anti-musical porque: 1) não existem instrumentos estéticos que musicalmente condenam o Kuduro. As «sete musas», se consideramos a Grecia antiga por exemplo, estávam ligadas as realidades Gregas. Assim como o demonstrou Montesquieu no seu Espirito das Leis (Livro 4, VIII), «os exercícios dos Gregos não estimulariam neles senão um género de paixões: a rudeza, a cólera, a crueldade». Por isso a música deveria ser finada e daquele tipo de estilo, afim de «fazer a alma sentir a doçura, a piedade, a ternura, o prazer suave». Ora, se aceitamos a opinião de Luís Mendonça, diremos que a tragédia (tragaoidia) seria também uma arte anti-teatral. O que não se justificaria esteticamente. 2) faltemos também os instrumentos institucionais para pronunciarmo-nos devidamente: existe UNAC, mas sem Universidade e Circuitos internacionais, é muito prematuro e inseguro declarar que o Kuduro seja arte anti-musical.
 
Seria Kuduro realmente anti-musical? Até Semba, que sobreviveu com as tempesdades nela caidas desde os anos 50, não responde satisfatóriamente no termo música, quer no sentido grega ou seja indo-europeia ou seja ainda universal quer no academismo. Quantas músicas-Semba foram solfejadas? Quantas músicas-Semba foram  ensinadas de forma classica nas Escolas de Musica que temos em Angola? No entanto, percebo relativamente bem – como filósofo – porquê Mendonça prefer a Semba. As suas escritas (na literatura angolana) são pelo menos uma boa Semba, talvez porque a sua geração pertence numa época que se situa entre as músicas tradicionais e Semba.
 
Muitos marginais, é dificil não aceitar, foram motivados a fazer registo eleitoral depois de escutar ou assistir as músicas-propagandas cantadas por Kuduristas: Dog Murras, por exemplo. Então coloco a apergunta: será possível uma arte anti-musical preencher o papel duma arte musical? Uma das funções da Música sempre foi «apaziguar ou alegrar a alma». Será que realmente Kuduro não consegue fazê-lo? Duvido muito e vou provar o contrário: de forma pública foi Dog Murras que pela primeira vez usou a camisa-bandeira. Até foi chamado de Mplaista. Persistiu e hoje, tornou-se «marca» dos «neo-nacionalistas» ou seja patriotas quando no Estrangeiro vão representar Angola, uma marca inerente de Kuduro.
 
Nisso, Kuduro seria um terrorismo contra angolanidade ou seja está a ser terrorizado pelos adeptos da angolanidade? Cadê a democracia que Ndunduma e Mario P. Andrade terão dado a angolanidade?
 
A história nos prova que a domocracia é uma cultura porque criada pelo homem para gestão harmoniosa humana. Se angolanidade (mesmo for apriorística) foi «teorizada» nos fundamentos democráticos, não faria sentido que o Kuduro seja rejeitado da forma que o fazem alguns angolanistas. No entanto salientemos que não é a primeira vez que isso acontece no mundo. O mais sábio do mundo, sugeriu na Educação dos jovens Atenenses uma estrutura que possa impedir as infiltrações estrangieras que possa destabilizar a sociedade e desviá-la dos objectivos pelos quais foi fundada. Será que também estaria a se pretender o mesmo? Mesmo assim for, não deixa de ser algum terrorismo cultural contra o estilo musical angolano: kuduro.
 
Arte está ineluctavelmente ligada a sua época. Se semba caracterizou uma época que felizmente produziu a Elite angolana actual por exemplo, não podemos perder de vista que perante aquilo que chamamos «musicas tradicionais», só podia acontecer uma situação indiferente. É normal que o meu pai gosta de Eliás Diakimuezu porque são da mesma época. Mas nem com isso pretenderá que a música de outra geração seja anti-musical porque rebeldia a sua época. Fala-se de Bela música para justamente incluir esses antagonismos: a palavra bela não se limita só no bonito, mas também no feio. Tal como a vida é bela porque tem altas e baixas.
 
Problema de nomenclatura
Em Angola fala-se de vários estilos musicais: sonzo, semba, kilapanga, shungura, konono, etc. Quais são os critérios estéticos de cada estilos? Asinalamos que estamos a nos referir aos critérios científicos, com tendência universal e presentes nos circuitos internacionais. Quer dizer devemos começar pelas descrições das músicas localisáveis no território angolano, analisá-las com propósito de classificar. Uma vez tivermos um estudo qualitativo e quantitativo, poderemos identificar com propriedade estética, os «padrões particulares» das músicas de Angola. Através de apresentação dessas músicas nas faculdades, os teoricos poderão sintetizar e nos circuitos internacionais as marcas de angolanidades ecoarão forte pela nossa dignidade. Somente assim que, talvez, poderemos declarar alguma asserção sobre Kuduro ou qualquer outro tipo de música em Angola.
 
É verdade que a crítica possa responder a indiosincrasia do crítico, o que lhe-é perigo dado que falhará a sua missão que é «objectivar» o que de íntimo existe. A pesar da dedução ser aplaudida as vezes no seu procedimento argumentativo, a critica é demonstrativa e não principalmente persuassiva. A linguagem de Mendonça a respeito das músicas tradicionais é apriorística, o que insinuaria que todas elas são de estética universalmente aceite. Pode até certo ponto interessar os antropólogos, mas a estética (a pesar de ser ciência normativa) não privilegie uma e despreze outra por tais motivos. Se as músicas tradicionais se enquadram nos «padrões musicais universais» existem instrumentos de medida que podem nos elucidá-lo. Se Kuduro não se enquadra nesses padrões, também deve isso ser provado consoante os mesmos instrumentos. O que exclui logo a partida um «apriorismo» argumentativo. Devemos respeitar imparcialmente os princípios e métodos inerentes, porque isso faz parte da ciência e não religião alguma.
 
Aconselhamento
A vida é um duelo de interesses. Vivemos numa Era de autoconhecimento de forma que o homem se preocupa mais pelas causas concretas das condições da vida tal como a percebemo-la através de cincos aparelhos físicos da sensibilidade. Se antigamente o «conhecimento exacto» era uniformizada através da filosofia, hoje admitimos ciências experimentais, sociais, humanas, etc. Alguns acreditam na sua estratificação enquanto outros preferem não dar importância disso. Mas o certo é que quer normativas quer exactas, todas são ciênças. Quer biológicas quer sociais, não deixam de ser ciênças.
 
Da mesma forma existe vários tipos de pessoas, e com isso diferentes classes sociais. Se para algum elite, a música clássica ou semba ou seja jazz lhe parece perfeita por razões subjectivas, não poderemos negar a existência de outras classes, que evidentemente também têm seus gostos musicalmente falando. Daí o Kuduro que devemos respeitar porque ainda existe. E se, ele prolifere a marginalização, espero que o Estado angolano disponibiliza os seus instrumentos para reconduzir a razão. Mas nem com isso, afirmaremos que Kuduro seja uma arte anti-musical. Francamente falar dessa forma é abrir uma discussão sem previsão duma só conclusão, quer dizer esperar por diferentes conclusões de calibres diferentes e de géneros distintos: uma discrepância inconvergente.


[1] Quarta-feira, dia 8 de Agosto de 2007
Partager cet article
Repost0

commentaires

E
<br /> <br /> I have been visiting various blogs for my essay writing research. I have found your blog to be quite useful. Keep updating your blog with valuable information... Regards<br /> <br /> <br /> <br />
Répondre

Articles RÉCents

Liens