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7 mai 2008 3 07 /05 /mai /2008 15:58

O QUE SIGNIFICA AFINAL O TERMO «BANTU»?

Patrício Batsîkama

 

O que é Banto?

Geralmente respondemos de maneira seguinte: «Banto significa conjunto das populações assim como as suas respectivas línguas na zona que começa um pouco ao Norte do Equador até na toda parte meridional de África». Mas será realmente essa a significação do termo?

 

Como surgiu?

É na África do Sul que tudo terá começado. Depois do naufrágio de um navio chamado Harlen, na actual Cidade de Cabo em 1648, os sinistrados foram assistidos pelas populações locais, de forma que os Holandeses estabeleceram uma escala provisória naquele país no mesmo ano. Mas no dia 6 de Abril de 1652 três navios transportavam os colonos, o material e a provisão de todos tipos. Logo no dia seguinte Jan Riebeek, o chefe da expedição fundava a «Cidade do Cabo». No entanto, as recomendações eram claras: não misturar-se com as populações locais e ser protestantes.

 

Nessa altura tinha-se estabelecido dois «mundos»: os Boers e os Cafres. O termo «Boers» significa na língua neerlandesa «camponês» e Cafres é a corruptela de Kaffir, termo árabe que os Holandeses encontraram para designar «Negro». Salientamos no entanto que «kaffir» em árabe é a designação de «quem não acredita no Islão». Kaffir passou a designar o Preto, o Negro. É tido como bárbaro, amaldiçoado porque descendente de Canã. Lembremos que os Holandeses dessa época são protestantes vivendo ainda a grande euforia do movimento e estão a agir em nome da bíblia.

 

É dai que o Reverendo Thomas Thompson, com grandes experiências em África, publica em 1772 uma brochura intitulada: «Como o comércio dos escravos negros nas costas de África é conforme aos princípios da religião revelada». Aliás o Reverendo Josiah Priest – desta vez protestante americano – prova cientificamente na sua obra (Defense of Slavery) que a maldição de Cham pelo Noé justifica plenamente «la mise en» escravatura dos Negros.

 

Em 1783 os Boers proclama a República do Cabo, independente da gerência da Holanda. Mas os Britânicos – protestantes também – pretendem dominar as regiões que reclamam o direito de colonização. É assim que entre Boers, Britânicos e Cafres haverá lutas sangrentas e assíduas. No final, em acordo com a Metrópole, criou-se o «grondwet» (Constituição). O primeiro e segundo artigo desse «grondwet» proclamem «uma nacionalidade pura» e «uma África do Sul unida»(1). Modificado em 1858, o segundo artigo passou a ser: «o povo deseja que não haja igualdade entre o Branco e o Cafre quer na Igreja nem sequer no Estado»(2).

 

Mas era preciso fundar esse argumento cientificamente. George Grey, o então Governador na altura, contactou um antropólogo/linguista chamado W.H. Bleek em 1853 para estudar o povo Cafres baseando nos trabalhos já publicados.

 

É nesse documento realizado pelo W.H. Bleek e publicado em 1860 que aparece pela primeira vez o termo BANTO, o termo que o autor terá forjado pelo único facto de que – parece assim – significa HOMEM em todas línguas de África Austral.


BANTO significa HOMEM
?

O argumento não responde a lógica: Bantu não é Homem no singular, mas sim Homens no plural. Pode ser uma gralha… mas será realmente uma gralha? São os outros que nos fazem entender melhor esse fenómeno. Quando P.D. De Pedrals escreve: «a expressão BANTO não tem por si só que um dos sentidos mais vagos»(3), um outro autor de 1894, tenta esclarecer que «Bantou significa gente da raça dos Cafres»(4). Lembremos que o termo ainda é desconhecido de muita gente. Finalmente Letourneau evidencie isso na sua obra editada em 1903(5) dizendo que Banto e conjunto das «raças incultas contemporâneas cujas as mais inferiores confinem ainda a animalidade, raças que representa duma maneira geral as fases lentamente progressivas pelas quais têm passado os ancestrais dos povos civilizados»(6).

 

Ainda nos anos 50 e 60, o Bantu que já é massivamente emprestado pelos «cientistas da colonização», é tido como «povo sem alma», tal como o escreve aliás Donal L. Wiedner, «os Boers acreditem que são povo eleito de Deus, enquanto dizem que os Bantou e os Bochimans são Seres sem alma»(7).

 

Na lógica, a forja do termo consoante o procedimento de derivação pela mudança do sentido esclarece que o termo BANTO, quando foi «criado» significava PRIMITIVO, SELVAGEM e por fim ANIMAL se devemos basear nas escritas da época. Não se limitando num conhecimento livresco, adiantamos que apartheid, depois de Mandela, esclarece isso. 

 

Um problema antropológico?

Como podemos entender, «Banto» se traduzindo por «homens», deveria ser aplicado a todos Seres humanos dotados do raciocínio, independentemente da pigmentação da pele, expressão, alturas, etc. Isto é, Português também é «Banto», assim como Chinês, Pigmeu, etc. Mas não é o caso, uma vez que aqui, para W.H. Bleek e seus compatriotas que consideram como «Boers» (camponês), e aos Cafres eles chamam de «Banto». Se realmente W.H. Bleek entendeu o significado, é obvio que a sua genialidade só pode ser ridicularizada pelo facto de não aceitar que até os «Boers» sejam também «Banto». Isto é, em outras palavras o civilizado Boers também é primitivo (animal=Banto). Mas com os «olhos de antropólogo», não podia ser possível dada que a «antropologia era na altura uma das ciências ao serviço do colonialismo» para melhor domesticar o Colonizado.

 

De modo igual, falar de «semi-Banto», nesse caso os Pigmeus, é outra forma de dizer que são semi-homens. E com toda verosimilhança, é um termo demasiado paradoxal. Na nossa língua tida como imprópria a ciência, os termos são menos paradoxal. Semi-Banto entendo na minha língua (kikôngo) como «Ndâmbu za Bantu»: (Meio-Homem) faz crer que são homens incompletos, pelo menos literalmente. Mas os Pigmeus são chamados «Bambâka» (de pequena altura) ou seja «Bantu ba nkûfi» (anãos), mas jamais Meio-Homens: Semi-Banto (Ndâmbu za Bantu).

 

Um problema linguístico-filosófico?

Quem foi «Platão»? «Discípulo de Sócrates» e «Mestre de Aristóteles» são duas respostas verdadeiras, e a significação aqui nasce da correlação entre um sentido e uma referência. No entanto, «a um sentido corresponde sempre uma única referência, daí que desde que se conheça o uso de um nome, temos a sua referência presente no espírito». O que quer dizer quando se fala de «Banto», os seus inventores Boers têm em mente algum «primitivo sem alma». A interpretação da quantificação na construção argumentativa a volta de «Banto» não realce uma lógica habitual. De Kaffir (não-crente) a Cafre, e depois a «Banto», não nos parece cair a intenção de atribuir a esse «Banto» as qualidades de animal: eis porquê lhe chama de «primitivo» próximo da animalidade. Eis a razão pela qual Holandeses, Britânicos e outros Ocidentais preferem se auto-qualificar de «Filhos de Deus», e consideram os Banto como, em lógica comparativa, «Filhos do Diabo», pelo menos no mínimo, embora que utilizem os termos «suaves aos ouvidos» dos mesmo: Banto: homens.

 

Somos Africano (primitivos), Angolanos (poderosos), Camaroneses (Ganchos), Etíopes (Cara-queimada: Negros), Gabão (Bajuladores), … porque o Colonizador ensinou-nos dessa forma. «Amen!» respondem os «abocanhados» que somos. Até mais: Bazômbo, Bansansalvadolo, Basolongo, Batêke, Bambûndu, … deixaram de ser cidadão dum mesmo país: Kôngo. Côkwe, Lûnda, Lwêna, Lutaci… deixaram de ser um mesmo povo… E eles próprios acreditem nisso como nos contos de fada. Numa mesma palavra segregacionista – isto é BANTO – o colonialismo juntou uma variedade de «tribos», «etnias» e outras populações de diferentes origens. E para esquecer-se das suas civilizações verdadeiras foram tratados Cafres, isto é Não-crentes a Islão como se Islão era a única religião verdadeira; ou seja BANTO quer dizer os «primitivos próximos da animalidade» … isto é, na verdade, os Negro-Africanos habitantes no e ao Sul do Equador, assim como as suas línguas.

 

Em guisa de conclusão?

Vi muita gente, até eu próprio, vangloriar-se de ser BANTO. Logo uma etiqueta de orgulho… mas será que faz realmente o orgulho daqueles que assim se declamam? Quem ignora de onde vem, e que menos entende quem é ele é… acredita a qualquer asneira… Tentamos aqui reunir as peças que compõem o historial do termo BANTO a fim de apresentá-las aos próprios auto-vangloriados BANTO. «És Banto?» ou seja «és primitivo ou seja animal?» são verdadeiros sentidos que se dissimulam na pergunta «És BANTO».

 

O grande Latino Cícero disse: «Bântu mu bâwu ye bâwu, ke vena kwândi nswâswani ye ngôlo ko, kadi mpe, mûntu, dyôngo kaka kânda di kakala, vo wuna ye ñlôngi, lêndele kwândi zâya mana malendakene». (Ciceron, De legibus, I, 10).

 

Notas

[1] Burns A., Le préjugé de race et de couleur, Payot, Paris, 1949, p.45

2 Lequercq J., A travers l’Afrique Australe, E. Plon, Paris, 1895, p.79.

3 De Pedrals P.D., Manuel scientifique de l’Afrique noire, Payot, Paris, 1949, pp.65 et 185.

4 Ibidem.

5 La condition de la femme dans les diverses civilisations.

6 Wiedner D.L., L’Afrique Noire avant la colonisation, Nouveaux Horizons, Paris, 1963, p.206.

7 Ibidem.

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